Uma fibra natural, biodegradável, durável, versátil, confortável e gira. Esses são os atributos que tornaram o algodão, ao longo de milénios, na preferência absoluta da humanidade como matéria-prima para a fabricação das suas roupas. Todos os anos são produzidos 35 milhões de hectares ou 26,7 milhões de toneladas de algodão pelo mundo, e a fibra está presente em 35% de todas as roupas produzidas.
Mas os impactos da produção convencional de algodão são altos, quer seja em termos ambientais, económicos ou sociais. Uso excessivo de água, degradação do solo, danos à biodiversidade, exploração ilegal de mão de obra, trabalho infantil, danos à saúde dos trabalhadores em razão do emprego intensivo de agroquímicos, afastamentos onerosos por razões de saúde, despesas com processos laborais são apenas alguns dos problemas relacionados à cotonicultura.
Em alternativa, podemos contar com a produção orgânica. Estudos baseados nos 5 maiores produtores orgânicos do mundo concluíram que, em comparação ao cultivo convencional, essa cultura propicia grandes reduções no consumo de água, emissão de gases, acidificação do solo, eutrofização (multiplicação de algas) e demanda de energia primária, resultando num produto 46% menos instigante ao aquecimento global do que o algodão convencional. É, inegavelmente, uma redução considerável nos impactos ambientais.
Orgânico = responsável?
No entanto, e por muito surpreendente que seja, produção biológica não é sinónimo de responsabilidade. O só fato de se tratar de cultivo orgânico não garante que, além da redução dos impactos ambientais, outros pilares da sustentabilidade sejam atendidos.
Felizmente, diversos países produtores de algodão já contam com iniciativas e apoios governamentais para uma produção globalmente sustentável.
O chamado “algodão de produção responsável” não se limita a uma prática de cultivo orgânico, mas envolve também importantes questões sociais da cadeia produtiva, como os direitos laborais, a igualdade de géneros, a prevenção do trabalho escravo e infantil.
Em síntese, estes são os fundamentos do cultivo responsável de algodão:
1. Uso consciente da água
Embora o algodão seja uma cultura tolerante à seca, os produtores convencionais têm historicamente empregado técnicas de irrigação para aumentar a sua produtividade, aumentando muito o uso de água para o cultivo das suas safras. De acordo com o WWF, são necessários 20 mil litros de água para produzir um quilo de algodão, ou o equivalente a uma única T-shirt ou um par de jeans. Os produtores responsáveis têm procurado aumentar a eficiência do uso da água, com tecnologia e a implementação de melhores sistemas de distribuição, produzindo mais algodão com menos água.
2. Redução nas emissões de gases de efeito estufa
Como todas as produções agrícolas, o cultivo do algodão contribui para a geração de emissões de gases de efeito estufa devido ao uso de fertilizantes. Para reduzir a quantidade de fertilizantes necessária para a produção, os agricultores estão a implementar tecnologia de ponta para aumentar a sua eficiência e, assim, reduzir a aplicação desnecessária.
3. Preservação do solo
A erosão do solo é um dos maiores riscos às fazendas de algodão e ao meio ambiente. Uma prática responsável procura manter ou incrementar a estrutura e a fertilidade do solo, minimizando a erosão e contendo a movimentação do solo e protegendo fontes de água potável e outros cursos d’água contra o escoamento de superfície.
4. Relações justas de trabalho
Quando se trata de algodão, o abastecimento sustentável envolve mais do que apenas o meio ambiente, aplicando-se também às pessoas envolvidas na produção. A indústria é complexa e, infelizmente, tem sido marcada por constantes violações aos direitos humanos. O produtor responsável tem um compromisso com o respeito e valorização da mão-de-obra, alinhando o tema social com os preceitos legais que protegem o trabalhador, rechaçando os trabalhos forçados e incentivando a associação e organização de pequenos produtores para defesa dos seus interesses.
5. Transparência na cadeia de suprimentos
Qualquer empresa pode alegar que tem uma cadeia de suprimentos sustentável, mas só são realmente confiáveis aquelas que são transparentes e fornecem aos consumidores uma visão interna de seu processo.
6. Gerenciamento sustentável
O cultivo responsável de algodão precisa ser, ao fim e ao cabo, um negócio rentável para o produtor. Otimizar os processos e o gerenciamento sustentável da unidade produtiva com foco no retorno financeiro depende exatamente das boas práticas ambientais e sociais, que trazem em sua própria essência ganhos que promovem a prosperidade do negócio. Como exemplo, a legalidade das relações de trabalho evita despesas com processos laborais; o zelo com a saúde dos empregados reduz o afastamento oneroso por doença ou acidente; benefícios como alimentação e alojamento elevam a motivação e produtividade dos trabalhadores.
Ou seja, uma roupa feita com algodão de produção responsável não é só boa para nós, mas é também muito melhor para o meio ambiente e para todas as pessoas envolvidas na produção.
Procura sempre saber do que são feitas as suas roupas. E, quando encontrar uma peça em algodão de origem responsável, lembre-se de todos os benefícios que ela representa e valorize-a muito! Isso é consumo consciente!