Cada vez mais os consumidores dizem que estão preocupados com os impactos da moda no planeta e que querem mais opções de produtos sustentáveis. Mas as pesquisas de consumo sobre moda e sustentabilidade acabam por ser enganosas, porque muitas vezes os consumidores respondem de forma a atender à expectativa social: eles querem parecer verdes, mesmo que na realidade os seus principais critérios sejam preço, status e aparência. Na prática, o que se vê é que há uma grande lacuna entre o que eles dizem e o que efetivamente fazem.
Mas o que é que realmente nos impede de fazer a coisa certa?
O ato de comprar é uma decisão eminentemente emocional, não racional. E o que se tem visto é que quando uma pessoa tem de ponderar os aspetos de sustentabilidade em confronto com o look ou o preço, geralmente a escolha ética é que perde.
A compra de moda age no nosso sistema nervoso, proporcionando-nos não apenas o prazer de procurar roupas, mas também o prazer de fazer um bom negócio. Estudos comprovam que nem o preço nem o fato de se ter gostado de uma peça explica, isoladamente, a quantidade de prazer que sentimos durante as compras. O prazer vem da soma desses dois fatores: o quanto a pessoa gostou e o quanto ela pagou.
Se essa roupa for de uma empresa com práticas duvidosas, o consumidor pode até se questionar se deve comprar ou continuar à procura de uma alternativa que corresponda aos seus valores. Mas a maioria das pessoas se perde neste ponto, simplesmente porque é mais difícil encontrar outra opção que corresponda ao orçamento, estilo e valores ao mesmo tempo.
O consumo consciente ainda não é um modelo perfeito e, certamente, não é nem será tão em conta quanto gostaríamos – justamente porque é baseado em práticas ecológicas e socialmente justas, portanto mais onerosas.
Mas já há inúmeras marcas a comprovar que podemos ser sustentáveis sem sacrificar o nosso estilo pessoal e que ser um consumidor responsável não é tão difícil assim.
Já lá vai o tempo em que roupa sustentável significava exclusivamente algodão orgânico em tons de bege. Primeiro, porque a sustentabilidade inclui a sustentabilidade ambientam, mas não se limita a ela, e escolher uma roupa ética vai proporcionar uma gama vasta de benefícios sociais. Depois, porque a tecnologia hoje já possibilita o uso de uma infinidade de materiais sustentáveis, de cores e estilos, o que favorece um design muito mais contemporâneo e arrojado. Tem para todos os gostos. E se comprar roupas já o íamos fazer de qualquer jeito, então é um grande facilitador poder escolher peças do nosso gosto e ao mesmo tempo feitas de forma ética e ecológica. É a sustentabilidade tornada simples.
O dinheiro também é um fator decisivo, mas precisamos quebrar a noção de que a moda sustentável seja inerentemente mais cara. Obviamente, em comparação com a fast fashion, os preços vão parecer muito altos. E a discrepância se dá pela procedência dos materiais utilizados, qualidade e durabilidade das peças, pela redução dos impactos ambientais e pelo cumprimento de normas laborais minimamente aceitáveis como salários dignos e boas condições de trabalho. Ou seja, o preço traz outros relevantes valores agregados que a moda rápida é incapaz de oferecer por 5€ a peça.
Não é a sustentabilidade que é cara! A fast fashion, com as suas práticas anti-éticas e o seu material de baixa qualidade, é que é barata demais.
Mas, mais do que isso, uma rápida comparação mostra queos preços da moda sustentável às vezes não chegam nem a ser mais altos do que os que estamos dispostos a pagar por peças de melhor qualidade em marcas menos high-street!
Naturalmente, o objetivo final é que a sustentabilidade seja acessível. Mas não podemos estar mais dispostos a pagar por estilo e status do que pela moda ética, e os descontos definitivamente não podem interferir no nosso desejo de fazer a coisa certa.
O que precisamos é de pequenas mudanças, de começar a incorporar um estilo mais responsável e sustentável de consumir. As muitas pequenas mudanças vão somar-se.
Podemos não estar todos prontos para ser minimalistas e reduzir os nossos roupeiros nem queremos deixar de usar roupas giras, mas podemos ajustar esses hábitos para torná-los melhores para o planeta. Comprar menos peças baratas e valorizar mais os materiais sustentáveis e duráveis são pequenas mudanças que podemos fazer para melhor.